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Desenvolvedor JavaScript — do Brasil à Europa

Byebye Brasil: Planejando o intercâmbio e dicas

Publicado em 20 de set. de 2018, e leva aproximadamente 25 minutos para ler.

Dando continuidade na série e chegando quase na reta final, hoje vou compartilhar com vocês como foi o planejamento para realização do meu maior sonho de vida: morar fora do Brasil.

Não tenho intenção de escrever um guia definitivo, até porque, a situação/realidade/privilégios de cada pessoa são individuais e subjetivas. Talvez você tenha mais facilidade que eu na execução por N motivos, mas talvez não.

Meu intuito aqui, além de partilhar minha experiência, é te dar um norte e te mostrar que, se você se planejar direitinho, morar fora do país pode ser mais tangível do que você pensa.

O sonho

Bom, se você já leu todos os artigos da série até agora, já notou que morar em outro país talvez tenha sido meu maior sonho.Sempre quis viver em um país onde eu me sentisse mais seguro e que o meu esforço no dia-a-dia de trabalho fosse realmente recompensado, sem precisar me matar para isso.

Para realização desse sonho, um dos pré-requisitos (além do dinheiro) era saber inglês, no qual eu dediquei no Ato 7.

Foi então que eu comecei a observar algumas pessoas conhecidas indo fazer as duas coisas ao mesmo tempo: estudar inglês e morar fora.

E aí me surgiu aquela ideia na cabeça:

Se eles podem, por que eu não?

Países para o intercâmbio

Quando eu coloquei na cabeça de que eu iria fazer o intercâmbio, a primeira coisa que me veio na cabeça foi:

“Beleza, mas pra onde?”

Tendo em mente que eu queria poder estudar inglês e também trabalhar, afinal, não ia ter dinheiro pra me sustentar por meses, comecei a ver os países mais comuns entre intercambistas e tentar ver o que eu achava. Com base no que eu já sabia e algumas pesquisas, eu descobri:

Canadá

Esse parece ser um país legal, mas, na época eu lembro que desisti por ter um processo de visto que é MUITO difícil e burocrático, além de não ter a opção de trabalhar durante meus estudos.

Uma vez que nem minha mãe e nem eu teríamos dinheiro para bancar minha estadia lá só estudando, a possibilidade de fazê-lo era "must-have". Sabendo disso, risquei da minha lista.

EUA

Mais ou menos o mesmo caso do Canadá. Visto difícil, caro, sem trabalho e, para além dessa pequenezas, eu estou longe de fazer parte do grupo que idolatra os EUA.

Como nossa cultura tem influências fortíssimas americanas, a gente tende a ver as coisas boas de lá, como o preço do iPhone e os eletrônicos que sonhamos em ter, Walmart com as coisas quase de graça, salário mínimo alto, etc.

Porém, basta você começar a tentar olhar mais pro país e sem viés, você vai perceber que a galera lá tem vááários problemas também. Não são os mesmos que os nossos no Brasil, mas são problemas bem sérios (e.g. sistema de saúde, preconceito com estrangeiros, dentre outros).

Não vou entrar em por menores, até porque o intuito do artigo nem é esse, mas os EUA é um lugar que eu sequer tenho vontade de visitar, quanto mais de ir morar lá um período. Descartado!

Austrália

Esse foi um país que me chamou muita atenção pelo fato de ter amigos que haviam ido para lá e tiveram experiências bem positivas.

Havia assistido algumas palestras presenciais da Australian Centre, e eu sempre saía com aquela sensação de: #partiuAustralia.

Apesar do processo de visto também não ser dos mais fáceis, afinal, você precisa provar ter grana no Brasil para caso você não consiga emprego, eu estava realmente empolgado.

Havia pesquisado que eu precisava “provar” para o governo australiano que eu tinha pelo menos R$ 30.000,00 no banco e ainda ter a grana pra pagar todo o resto (curso, moradia, etc.), o que nas contas da época daria mais uns 30 mil.

Óbvio que, para essa comprovação, poderia dar um “jeitinho”, pegando dinheiro emprestado, tirando extrato, etc. No entanto, o fato do intercâmbio em si custar mais 30k já tinha me dado uma desanimada.

Conversando com uma das minhas amigas (que é bióloga) que estava lá, fiz aquela pergunta que todo mundo tem curiosidade de saber a resposta, dado o tanto de notícia de animal que a gente vê que só aparece lá:

A vida selvagem aí é realmente como a gente vê nas notícias?

E a resposta dela me surpreendeu:

Sim!…. …. .. Mas depende de onde você mora.

Ela me explicou que nas capitais e grandes cidades nem tanto, mas a medida que você se afastando do "meio" e vai chegando perto das florestas e/ou cidades rodeadas por elas, encontrar animais (cobras, aranhas, morcegos grandões, cangurus, etc) eram realmente grandes.

Por algum motivo estranho, ela escolheu morar em uma cidade que ficava mais na costa australiana. Disse que no seu primeiro dia, saiu para conhecer a cidade e em um determinado momento, ficou cara-a-cara com uma cobra venenosa. Sim, venenosa. Ainda complementou que teria morrido em menos de 10 minutos se tivesse sido picada.

Outro dia ela me contou que finalmente havia criado coragem pra entrar no mar, mas tinha que ficar sempre atenta aos tubarões. SIM, TUBARÕES.

Minha curiosidade não me deixou terminar a conversa sem saber como ela ficava sabendo que naquele dia havia ~tubarões~ no mar. Com a maior tranquilidade, ela me disse que quem avisava sobre as presenças eram os surfistas que iam bem cedo para o mar e passavam o recado para o pessoal.

….. Sério…..

De novo: tudo que eu conheço são experiências de terceiros. Talvez você vá para Sidney e não veja um animal sequer, mas não dá pra não acreditar nessas histórias quando o país ensina para as crianças quais aranhas são ou não venenosas nas escolas.

Se eu já estava desanimado com os preços (principalmente para ficar nas capitais), ouvindo essas histórias eu tinha desanimado mais ainda. Descartado.
(Aqui vale um parêntese rápido de quando eu já estava na Irlanda: um amigo do menino que morava comigo foi fazer intercâmbio na Austrália e mandou um vídeo do dia que ele estava saindo para trabalhar e tinha um morcego gigante pendurado na bicicleta dele… mano… Austrália definitivamente é o lugar onde o ser humano está tentando dominar a vida selvagem.)

Irlanda

Eu sempre ouvi que a Irlanda era um lugar bacana para fazer intercâmbio, porém, também ouvia que tinha muito brasileiro lá e que isso poderia atrapalhar o aprendizado do idioma (nem vou comentar sobre isso agora, aguarde o próximo ato).

Com isso, comecei a procurar mais sobre e tentar entender o porquê a comunidade brasileira escolher este destino e, bem, depois de algumas pesquisas, descobri que o motivo disso era: processo muito fácil.

Diferente do Canadá, Australia, EUA etc., tudo o que precisamos fazer é ter dinheiro pra comprar passagem, curso etc., um passaporte e coragem, nada mais.

Além disso, viajar da Irlanda para outros países legais da Europa é um pulo e dependendo do destino, nem é tão caro assim.

Levando em conta todos esses pros e cons, decidi arriscar e escolher a Irlanda como meu destino de intercâmbio.

#partiuIrlanda
#partiuIrlanda

Irlanda, pré-requisitos

Existe algumas categorias de possíveis vistos para entrar na Irlanda. O que se encaixa na nossa vontade de ir para lá, trabalhar 20 horas e estudar 20 horas por semana é o Stamp2 (visto de estudo/trabalho).

Ele tem validade de 8 meses, sendo 6 para você estudar e 2 para tirar férias e fazer o que quiser.

Para pegá-lo, tudo que você precisa é de:

3000 euros para comprovação

O governo irlandês requer a comprovação de 3 mil euros no mínimo para você imigrar pro país, mas aqui vai um ponto de atenção: NÃO É O SUFICIENTE.

Você precisa ter esses 3000 euros, beleza. No dia de pegar seu visto, você precisa pagar 300 euros para retirar o documento.

Fora isso, você vai atrás de uma casa pra ficar. Talvez encontre um local em torno de 300 a 350 euros por mês, porém, meus caros e caras, na Irlanda (e em muitos outros países), existe uma prática que você, quando entra na casa, precisa pagar um depósito no mesmo valor do aluguel, ou seja, 600~700 euros já no primeiro mês.

Pra piorar a situação um pouco, não é nada garantido que você consiga um trabalho logo de cara. Às vezes, isso pode demorar alguns meses e, vai por mim, o desespero de ver seu dinheiro acabando é algo que tem a capacidade arruinar a experiência do seu intercâmbio.

Eu mesmo levei 4000 e precisei comprar mais alguns meses depois porque demorei a conseguir um emprego.

Vale deixar claro que esses 3000 euros não vão ficar "congelados". Você vai poder usá-lo tranquilamente. Entretanto, precisa provar para o governo que você tem essa disponível quantidade. Como isso é meio confuso, vou deixar aqui esse e esse vídeo falando sobre isso para você entender melhor.

Estar matriculado em um curso de no mínimo 6 meses

Sim, um curso de no mínimo 6 meses. Não lembro se precisa necessariamente ser curso de inglês, mas precisa ter essa duração.

Isso significa que, se você quiser ir pra estudar 3 meses, vai pegar outro tipo de visto e não vai poder trabalhar.

Passagem de volta

Além da passagem de ida (é claro), você precisa ter a de volta comprada e impressa pra passar na imigração.

Ou seja: prepare seu bolso, pois infelizmente ida e volta é uma nota.

Seguro de saúde

Existem dois tipos de plano de saúde: o público cuja a adesão é obrigatória e o particular (que é opcional).

Aqui, a escolha vai depender muito da sua situação. O sistema de saúde na Irlanda não tem uma boa fama. Já ouvi péssimas histórias e relatos sobre a demora e a qualidade. Se você procurar alguns vídeos de brasileiros no YouTube, vai ver do que eu estou falando.

Então, se você tiver alguma situação crítica de saúde, sugiro considerar seriamente pegar um plano particular para ter uma cobertura maior de serviços.

E SÓ! Sim… só.

Parece muita coisa, mas perto de outros intercâmbios, isso não é nada.

Com tudo isso em mãos, basta você embarcar no avião e ir.

"Vindo morar e estudar na Irlanda" - Willian Justen

Fazendo as contas por cima e entrando em contato com as agências de intercâmbio, eu precisaria de aproximadamente R$ 25.000,00 para realização do bendito.

Quando comecei a pensar sobre isso, a primeira coisa que me veio à cabeça foi:

'Bambam.. não vai dar não…'
'Bambam.. não vai dar não…'

Porém, pensando mais e começando a colocar tudo na ponta do lápis, cheguei à conclusão que com a minha situação atual eu demoraria de 3 ou 4 anos para realizar o intercâmbio.

Bom, antes tarde do que nunca, não é meixmo?

Eu só precisava de uma forma de ganhar mais dinheiro. Arrumar outro emprego estava complicado, então tive a ideia de, ao invés de guardar esse dinheiro na poupança, investir e diminuir esse tempo.

E foi aí que começo a parte mais chata e divertida do intercâmbio (a menos que tu seja rico), planejamento financeiro.

Planejamento Financeiro

Eu nunca fui um cara muito planejado financeiramente. Tinha (e tenho) um viés consumista de coisas aleatórias e que acredito precisar, mas que depois de adquiri-las, chego à conclusão de que não, não precisava.

Porém, para grandes mudanças acontecerem, grandes mudanças precisam ser feitas. Sabia que teria que rever meu mindset.

Só para você se situar no tempo, isso foi quando consegui o meu primeiro emprego de TI (você pode ver mais detalhes aqui), e o meu salário na época era de R$2300,00 bruto :/.

Apesar de não ser muito, eu morava com a minha mãe. Consequentemente eu quase não tinha gastos fixos. Eu só tinha que manter uma moto que já estava quitada, ajudar um pouco em casa, sair com a minha namorada e pagar os meus produtos do AliExpress. Eu sabia que dava pra guardar uma graninha.

Comecei a buscar formas de investir meu dinheiro em médio prazo (dois ou três anos) e que tivesse uma liquidez boa, ou seja, eu pudesse resgatar a qualquer momento e principalmente com baixo risco.

Foi então que encontrei o Tesouro Direto.

Tesouro Direto

Não sei se você sabe do que se trata, mas o Tesouro Direto é uma forma de emprestar dinheiro diretamente para o governo com um rendimento considerável e muita segurança.

Há vários tipos diferentes de títulos disponíveis para compra. Alguns baseados na inflação do país, outros na taxa Selic e os que eu mais gostei, com taxas fixas.

Os com taxas fixas (pré-fixado) te pagam 12%+ de juro ao ano e não dependem de nenhuma condição externa, ou seja, vai ganhar aqueles 12% + a.a. se o mercado/economia do país estiver boa ou ruim. Em outras palavras, você sabe exatamente quanto vai ganhar no fim.

Outro ponto legal é que: pra você investir, dependendo do título, o valor mínimo é muito baixo, apenas 1% do seu valor. Assim, se o título custa R$ 1000,00, você pode comprar uma fração (1/100) dele por 10,00 golpinhos.

Óbvio que investindo apenas 10 pratas, seu retorno vai ser insignificante, mas é aquela velha história "de grão em grão, a galinha enche o papo".

Se você comprar uma fração de título a cada dinheirinho que sobra, em alguns anos garanto que terá tido um retorno considerável.

Tudo que você precisa ter para poder comprar títulos do Tesouro é uma conta em um agente financeiro credenciado pelo próprio governo (link aqui) e que, de preferência, possui uma taxa de administração baixa e que não tenha um score negativo pelas terras da Internet.

Na época, o melhor agente financeiro que eu vi era a Rico que, além de ter muito conteúdo no blog e canal no YouTube justamente sobre o Tesouro, tinham taxa de administração de R$ 0,00 reais por mês. Sim, sem taxas.

Por fim, eu destinava todo mês do meu salário, algo em torno 10~20% do valor líquido para comprar títulos pré-fixados e outros 10% eu guardava na poupança, para eventuais contratempos.

No final de dois anos, meu investimento total foi algo em torno de 4 mil reais e consegui lucrar mais mil e pouco (14% ao ano), o que, se você for parar pra ver, foi bem rentável, uma vez que tive 0 risco e com um taxa de rendimento de mais que o dobro da poupança.

Mas apesar de ter usado essa estratégia do Tesouro, hoje eu faria diferente e é essa dica que eu quero dar aqui.

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