Fala meu povo, como estão as coisa por ai? Espero que bem.
Dando continuidade na série, hoje eu quero contar pra vocês como foi minha experiência de estudar inglês em outro país.
Aqui, vou focar apenas na minha experiência com o idioma no curso, nos rolês e no dia-a-dia, sendo a próxima parte focada mais no trabalho e como eu consegui meu primeiro emprego como dev fora do país.
Então, prepara-te que a leitura é longa, mas garanto será no mínimo interessante!
Alou alou, terras irlandesas
Depois de todo aquele processo e muita preparação psicológica, lá estava eu, fazendo 3 coisas que eu jamais havia feito antes:
- Viajando de avião;
- Indo para outro país;
- Tendo que conversar em inglês com pessoas de outras nacionalidades.
Pensa em um nível de tensão, estresse e ansiedade… agora triplica. Esse era o meu estado emocional naquele momento.
Não sei se você já teve a change de conhecer outro país, mas dependendo da companhia aérea que tu pega, a equipe do avião é de outra nacionalidade, consequentemente, o idioma falado ali é o universal, o inglês e/ou o nativo da companhia.
Eu fui de KLM (uma companhia área holandesa) para a Irlanda e todas as aeromoças falavam Holandês e inglês.
De todas as nacionalidades que eu já conversei, considero os holandeses o povo com um sotaque muito claro quando falam inglês, mas mesmo assim, lembro de ficar atento a todos os diálogos e sempre respondendo o mínimo possível pra não me embananar na hora da comunicação.
Uma das situações mais engraçadas (agora) durante o voo, foi que eu não sabia como inclinar a poltrona. Todo mundo estava quase deitado e eu, sem conseguir fazer o mesmo e sem saber como, estava sentado em 90 graus.
Nesse momento, aquele jogo da vida apareceu e eu percebi que tinha 3 opções:
- Perguntar pra aeromoça como fazia isso;
- Perguntar para a moça que estava do meu lado (ela parecia não estar muito feliz em estar ali);
- Ficar em 90 graus durante 12 horas.
Bom, a opção 3 não parecia tão ruim assim.
Sério, fiquei durante pelo menos 3 horas do voo em 90 graus por vergonha de perguntar.
Durante essas 3 horas, me dava um momento de fúria e eu começava a procurar esse maldito botão, alavanca ou qualquer que fosse o mecanismo para poder deitar o meu maldito assento.
Vencido pelo cansaço, pela burrice e inexperiência, apertei o botão de chamar a aeromoça e resolvi perguntar.
Fiquei formulando a melhor maneira de fazer essa pergunta, afinal, não sabia uma palavra em inglês que fosse equivalente a “inclinar meu assento”.
Então mandei um: “How can I set my coach like that?” e apontei para a poltrona do lado. Para minha surpresa, ela entendeu e mostrou que havia um botão na lateral do encosto que tinha essa responsabilidade.
Foi nesse momento que eu tive um insight de como UX é importante e como as vezes o usuário se sente navegando em um site que para nós desenvolvedores, tudo faz muito sentido! 😂
Horas de voo e sonolência, finalmente chego na… Holanda. Sim, minha escala era Brasil > Amsterdam > Irlanda.
Aeroporto de Amsterdam e conexão
Não me recordo qual horário exato que eu cheguei, mas lembro de ter que ficar 6 ou 7 horas esperando meu próximo voo. Ok, agora eu precisava me alimentar, me hidratar, e eu já estava fora do Brasil, não tinha mais como fugir.
A minha primeira parada foi no Starbucks, afinal, não tem segredo né? Starbucks é Starbucks em qualquer lugar do mundo.
Como um bom desenvolvedor hipster, cheguei pedindo “A double expresso please”, mas até aí, não tem muito segredo, não é mesmo? O problema mesmo foi na hora de pagar.Se tem uma coisa que até hoje eu sofro um pouco é com números e horas em inglês.
Quando ela me falou o total, eu fiquei pensando, pensando… sabe aquela tela de "loading…"? Foi exatamente isso. O legal é que quando seu cérebro busca uma solução, é que as vezes a final é a que você não esperava.
A prova disso foi que me deu aquele estalo de: “mas caramba, porque eu não olho no monitor e vejo o preço?”. Óbvio.
No fim das contas, tentar entender o valor não foi muito útil, pois eu só tinha nota de 100 euros e foi com ela que eu paguei.
Uma coisa que foi bem engraçado e que eu nunca tinha passado por isso, é a forma diferente que ela escreveu meu nome:
Mais tarde descobri que essa variação de "Raul" existe mesmo e não é incomum (pelo menos não em Portugal)
Ainda gastei umas horas andando no aeroporto, passeando nas lojas, notando como a economia era diferente, enfim, me senti uma criança vendo o mundo pela primeira vez, afinal, aquele mundo que estava agora, era um mundo completamente diferente do que eu vivia.
Depois de muito andar, descobri que havia uma espaço com tomadas, mesas, sofás, onde as pessoas davam uma carga no telefone, no laptop e ficavam fazendo nada. Obviamente, fui pra lá e resolvi me distrair um pouco programando.
Foi então que vi um casal meia idade tentar conectar seus celulares e laptops no WIFI do aeroporto, mas sem muito sucesso.
Como eu já tinha resolvido a questão, decidi tentar ajudar, mesmo sabendo que provavelmente eles eram de outro país. Para minha sorte (ou azar), eles eram brasileiros.
Papo vai, papo vem, perguntei para onde eles estavam indo e eles disseram que estavam em um tour pela europa. Não consegui segurar a curiosidade em saber como era o domínio do inglês de cada um.
Parecia uma pergunta besta, mas a resposta me surpreendeu bastante:
“O básico. A gente sabe o suficiente pra fazer pedidos em restaurante, check-in em hotel e comprar algumas coisas em lojas, nada muito complexo."
Sim, isso mesmo, o básico.
Por alguns instantes refleti sobre os meus medos, como lidava com eles e como esse casal estava lidando com a mesma situação, tendo um inglês (teoricamente) pior que o meu.
Talvez devesse me cobrar menos… talvez devesse me permitir mais… talvez devesse meter as caras… e foi isso que tentei fazer!
#partiuIrlanda
Finalmente deu a hora do meu voo, mais 2 horinhas e finalmente chegaria no meu destino, e consequentemente enfrentaria a parte mais tensa de toda a viagem, a imigração.
Pois é, imagina a situação, você com seu inglês mediocre tendo que “convencer” o agente que você atende os pré requisitos para estar ali e quer fazer tudo conforme manda a lei local.
Na Irlanda, esse processo é bem tenso, pois, além de ser um dos países com o maior salário mínimo da união europeia, pegar um visto é muito fácil, a única coisa que você precisa é dinheiro.
Tendo isso em mente, pensa no tanto de gente que vai pra lá as vezes como visitante e ficam ilegal por anos.
A recomendação da agência foi ter todos os papeis em mão, 3 mil euros em espécie ou comprovante do mesmo em algum cartão, e o mais importante: não tentar ser o "amigão" do agente, responder apenas o mínimo necessário e o que ele perguntar.
Com tudo isso em mente (e um pouco apreensivo), fiquei na fila imensa esperando minha vez e observando as pessoas passarem por isso.
Quando finalmente fui chamado, coloquei os papéis no balcão e logo fui entregando tudo que ele me pedia.
Houveram algumas perguntas como:
- “Where are you going to stay?” (onde você vai ficar?)
- “Which school are you enrolled?” (qual escola você está matriculado?)
- “Do you already know someone here?” (Você já conhece alguém aqui?)
- “How long do you intend to stay?” (Quanto tempo você pretende ficar?)
- “Do you really have the money? Show me” (Você realmente tem o dinheiro? Me mostra)
E algumas outras.
Minhas respostas eram curtas e objetivas, mas… e o medo de não ter entendido e dar alguma merda?
No fim, apesar de demorado e nitidamente o agente não ter ido com a minha cara, consegui sobreviver e entrar no país!
Chegando em casa e a primeira Ida ao mercado
Depois da imigração, peguei minha mala, encontrei o transfer (pessoa responsável por te levar do aeroporto até a casa) da agência e partimos pra casa onde iria ficar.
Ao chegar na casa, me deparo com vários brasileiros e alguns mexicanos. Como uma pessoa que gosta de manter a ordem alimentar (sim, eu sou o cara que se alimenta bem, dorme bem e pratica atividades físicas), já perguntei pra galera onde era o mercado mais próximo.
Me explicaram mais ou menos e segui meu rumo, tentando decorar pontos de referência pra saber voltar, pois, ainda estava sem internet no celular.
Era de noite e quase não conseguia ver nada, mas já dava pra sentir quão diferente era aquele lugar.
Finalmente, encontro o mercado e logo ao entrar fico maravilhado. A variedade de produtos, preços, dinâmica, tudo é diferente.
Eu já sabia o que queria comprar, logo, não precisei ficar lendo embalagens e tentando descobrir o que era o que.
Até porque, se você está acostumado a ir no mercado assim como eu estava, não tem segredo, é quase a mesma coisa.
Na hora de pagar, me dirigi ao caixa e lembro que a atendente me perguntou:
“Do you want a bag?”
Mas não desse jeito formal, porque ninguém fala assim na vida real.
Foi mais aquela coisa informal do tipo:
"Do u wannabag?"
Eu juro que eu fiquei bugado ao ouvir isso.
Apesar de todo o processo, o meu cérebro ainda não estava associando que agora era em inglês.
Demorei um pouco, pensei sobre a frase e concluí que seria se eu gostaria de uma sacola. Aceitei a sacola, paguei minha conta e voltei pra minha casa temporária.
Voltei reflexivo sobre tudo aquilo que estava acontecendo e já tentando me preparar pro que viria em seguir: A vida pra valer.
A primeira semana de aula
No dia seguinte à minha chegada, fui levado até a escola por um funcionário da minha agência de intercâmbio.
Lá, ele me apresentou na recepção e disse que eu estava lá pra fazer um teste de nivelamento.
Sim, mais um teste.
Até então, eu achava que era intermediário, mas aqui na europa, o sistema de níveis possui uma dinâmica diferente e um teste pra saber onde você se encaixa é de realização obrigatória.
Nesse sistema, existe os seguintes níveis:
- Nível A1 — Beginner (iniciante)
- Nível A2 — Elementary (elementar)
- Nível B1 — Intermediate (intermediário)
- Nível B2 — Upper Intermediate (intermediário "superior")
- Nível C1 — Advanced (avançado)
- Nível C2 — Proficiency (proficiente)
Fonte
Beleza, mais um teste… era agora que eu mostrava minhas habilidades.
Fiquei esperando o diretor da escola acabar de almoçar para então me aplicar a prova. Enquanto isso, comecei a observar a estrutura da escola e começar a pensar:
“Onde c****** me enfiei… bom, tarde demais pra se arrepender. Quem mandou pegar a escola mais barata?”
Algum tempo depois, o diretor me atendeu e me deu um teste de gramática pra fazer.
Eu nunca entendi muito bem provas de gramática. Na minha cabeça, a maior parte das opções sempre estão certas, o que me força a sempre ir mais pela dedução do que pelas regras de fato.
No geral, acredito que consegui ir até bem, lembrava de bastante coisa.
Logo em seguida, chega a pior parte, o teste de speaking.
Bom, tudo bem, os meus testes na WiseUp sempre foram com foco no speaking mesmo, o que pode dar de ruim, não é mesmo?
Basicamente, ele me faria perguntas e eu precisava dissertar sobre.
A primeira pergunta que me fez foi:
“O que você faria se ganhasse 1 milhão de euros?”
O que eu faria…. Bem….
Uma pergunta relativamente simples aparentemente, porém, pensar em uma resposta que seja coerente e gramaticalmente correta com doses de ansiedade e nervosismo não foi nada fácil.
Depois de muitas gaguejadas e algumas sentenças um tanto quanto esquisitas, ele parou, pensou e me disse:
“Percebo que você tem uma noção, mas se for pro upper intermediate vai sofrer muito, vamos pro intermediate”.
Bom, pelo menos não foi pro básico, não é mesmo? E lá estava eu, rankeado no nível B1.
Primeiro dia de Aula
No dia seguinte eu já tinha aula em uma turma que já estava na metade do livro.
Nem preciso dizer que fiquei totalmente deslocado, afinal, aquela turma estava junta há pelo menos 5 meses. Já havia uma dinâmica entre eles e na aula.
Mas o legal é que tinham outras nacionalidades além de brasileiros. A turma era composta por: 1 mulher da Bolivia, 2 mulheres da Coréia, 1 mulher da Catalonia, 3 brasileiras e 4 brasileiros.
Quando sentei na cadeira, parei pra analisar novamente a estrutura do local ao meu redor novamente e constatar que de fato, tudo era muito velho.
As cadeiras, as mesas, o chão era de carpete, tinha um computador de 2006 em uma mesa meio que jogado de canto.
Fui convidado pela professora do primeiro horário a me apresentar pra turma (odeio isso hahahaha) e percebi que entendia muito pouco o que ela falava, mas não por causa das palavras ou sotaque, mas porque ela falava muito baixinho e eu sou meio surdo, ainda mais com inglês.
Mas muito além dela falar baixo, percebi que o problema é que até então eu só tinha tido professores brasileiros falando inglês.
A medida em que fui amadurecendo e conhecendo outras pessoas de outros países, percebi quão fácil é entender e reconhecer um brasileiro falando inglês, afinal, para ter sotaque, basta falar alguma língua.
Na primeira atividade em classe, a professora começou a recortar papeis. Nessa hora, fiquei perplexo e broxado.
Lembra da quarta série, que a tia da escolinha recortava alguns joguinhos e entregava pra você colar e/ou fazer atividades? Sim, era aquilo.
25 anos nas costas, esperando a professora cortar folhas pra fazer joguinhos, aquilo não fazia o menor sentido na minha cabeça. Mas enfim, vida que segue.
No decorrer da aula, comecei a perceber que o foco daquele curso era, acima de tudo, a comunicação verbal.
Apesar de termos na primeira parte da aula mais focada nas regras gramaticais, as atividades geralmente eram voltadas para a conversação, o que me deixou tenso e aliviado ao mesmo tempo, afinal, era onde eu tinha uma maior dificuldades, mas em contra partida poderia praticar e melhorar isso.
Após a primeira aula, tínhamos um intervalo de 20 minutos, hora livre pra comer, jogar conversa fora, dividir experiência entre diferentes culturas, perguntar sobre emprego, enfim, hora de iteração social.
Segunda Aula
Meu segundo professor também era Irlandês. Outro professor que também não quase não tinha sotaque, o que ajudava muito na compreensão.
Para além disso, diferente da primeira professora, ele falava mais alto e pra fora, o que me fazia entender bem mais a aula.
A minha primeira impressão dele não foi boa também (estava difícil ter todas as expectativas quebradas).
Ele mostrou ser uma pessoa completamente desorganizada, o que sempre me incomodou nas outras pessoas (sim, eu sei, o problema é meu se o outro me incomoda). Mas apesar desse aspecto, dava pra ver que ele se esforçava pra ser um bom professor.
Às vezes um pouco chatinho, mas era fácil perceber que ele tentava ajudar a gente da melhor forma que ele podia.
Ao iniciar a aula, percebi que era uma continuação da aula anterior. Se na primeira a gente tinha bastante conceitos gramaticais, explicando as regras, expressões, nessa segunda o objetivo era ver mais daquilo, só que em exemplos, textos, frases e outras atividades.
Como você deve imaginar, as aulas seguiram nessa dinâmica até o fim do curso.
Apenas um ponto curioso aqui, é que na primavera e no verão, é muito comum ter aula em parques, a céu aberto e curtindo um sol, uma vez que apesar de no Brasil ter sol quase todos os dias do ano, na Europa (talvez no hemisfério norte inteiro), sol é quase uma raridade.
Aulas de reforço
A minha agência intercâmbio, possuía uma base muito consolidada na Irlanda, logo, eles ofereciam vários serviços extras e gratuitos que facilitam muito a vida do intercambista.
Um deles, era aula de conversação e gramática quase que todo dia de graça com um professor Irlandês.
Se eu falar que fui em todas, estarei mentindo 😶. Pra ser bem sincero, devo ter ido em umas 3 apenas por pura preguiça, porque o professor era EXCELENTE.
Sabe aquele tipo de professore que possui uma didática e forma de explicar que prende a atenção de todo mundo, até de quem não estava afim de estar ali?? Sim, ele era desses.
Foi inclusive lá que aprendi uma das coisas que tinha muita dificuldade e que é bem básica que é o contexto de usar "Have" e o "There" para representar os diferentes contextos do "ter" português.
O único problema dessa aula era que por ser de grátis para os intercambistas da agência, a aula era sempre lotada, o que atrapalha às vezes no rendimento e você no fim mais ouvia do que participava.
Pubs e vida social
Vida de intercambista brasileiro é uma grande merda no quesito financeiro.
Você vai para um país onde a moeda vale 4x mais do que a moeda do seu país e além de ser difícil de arrumar emprego, só pode trabalhar apenas 20h semanais.
A grana é sempre curta (a menos que você seja privilegiado de ter pais que banquem seus gastos lá ou então ter tido um emprego muito bom no Brasil e ter conseguido levar muita grana).
Nessas condições onde, você está contando moedas e longe de todo mundo que você gosta, o que você quer fazer? Ir em lugares baratos e conhecer pessoas, é óbvio.
Mas assim como você, existem outros milhares de brasileiros que também tiveram essa idédia, e aí começa um problema: você começa a frequentar os lugares que os outros brasileiros que estão na mesma situação também estão indo.
Ou seja, você faz amizade com seus confrades brasileiros na escola e vai pra lugar que só tem brasileiros (ou a grande maioria).
Lá você conhece o que? Mais brasileiros. O que é bom, afinal temos uma dinâmica única e você acaba esquecendo o fato de que está há 12 mil quilômetros de distância de casa.
Outro ponto muito positivo nessa perspectiva é que nós, brasileirinhos, nos ajudamos de uma forma sensacional.
Às vezes a pessoa que você conhece naquela festa brasileira, pode te dar uma dica de onde ir, onde comer, o que fazer, onde trabalhar, enfim, isso é muito massa, mesmo!
Mas apesar de ajudar bastante no dia-a-dia, pode ser um ciclo vicioso onde você falar português e se conectar com seus semelhantes é a sua zona de conforto e quando você menos percebe, você está vivendo em uma comunidade brazuca em um país na europa.
O que era pra ser uma experiência intercultural e internacional, vira uma experiência de morar em um Brasil paralelo onde, teoricamente, as coisas dão certo.
Mas eu realmente não julgo quem faz isso. Sair desse ciclo é muito difícil.
Eu por exemplo morava com 3 brasileiros e uma das coisas que às vezes a gente fazia era dar rolê e durante o rolê inteiro, a gente tinha que falar em inglês.
Era um exercício muito difícil e incômodo, afinal, às vezes você quer falar alguma coisa muito específica, mas não sabe como dizer em inglês. Apesar das dificuldades, era muito divertido, principalmente quando a gente já estava levemente embriagados.
Ainda sobre sair, um dos meus primeiros rolês na Irlanda foi com um cara que morava comigo. Fomos para um bar que um amigo dele estava com a turma da escola.
Chegando lá, pude notar que havia algumas pessoas que pareciam ser de outro país, e realmente eram.
Foi nesse dia que conheci uma Australiana. Pude ouvir ela contar sobre como é a vida em outro país, ver como ela pensa, fala, age no dia-a-dia. Foi realmente uma experiência muito foda.
Apesar de ter saído algumas vezes, não foram tantas assim. Pra ser muito sincero, muito antes de qualquer intercâmbio, já não tinha tanto saco pra saindo todo dia (ou quase todo).
Com certeza isso me fez perder muitas oportunidades, mas, não sair me deu mais tempo pra focar em outras, como me dedicar pra estudar inglês com séries, filmes, atividades de músicas e uma das coisas que mais gosto de fazer nessa vida, programar por diversão.
Perdi em relacionamento interpessoal e network? Sim! Mas ganhei em experiência e proficiência tanto no idioma como na minha "code skill" e posso te garantir que isso foi um dos fatores decisivos para estar morando aqui na Holanda hoje.
"A cada escolha, mil renúncias."
Vale mencionar que apesar de ter dado certo pra mim, não há nenhuma garantia que sempre vai dar certo. Conheci várias outras pessoas que conseguiram coisas incríveis por outros caminhos.
No fim, é o que o Mortal Kombat sempre nos ensinou: "Choose your Destiny" (escolha seu destino).
Cada um precisa seguir o que sente e sempre refletir sobre o porque decidiu escolher aquele caminho e onde ele possivelmente irá te levar.
Trabalho
Meu primeiro e único emprego na Irlanda foi em uma lanchonete chama Jo’Burger e, se tem uma coisa que esse emprego me ajudou (fora continuar fazendo o intercâmbio por questões financêiras), foi a melhorar meu inglês.
Eu consegui esse emprego graças a indicação do cara que morava comigo (na qual mantenho contato até os dias de hoje. Um abraço, Tauã).
Na lanchonete, não tinha nenhum brasileiro e meu parceiro de trabalho era um croata de 45 anos, ou seja, ou me comunicava em inglês com ele ou estava fora do trabalho.
Para além da comunicação obrigatória (e para minha sorte), esse croata é daquele tipo de pessoa que ADORA conversar.
Obviamente o trabalho precisava ser produtivo e render, mas, durante quase todo expediente ele me contava histórias da croácia, histórias pessoais, piadas, pedia pra contar sobre como era o Brasil e minha vida lá. No fim, era o ambiente perfeito para práticar do idioma constantemente.
O trabalho terminava por volta de 01:00 da manhã. Quando terminávamos antes desse horário, o croata abria uma cerveja pra cada um e ficávamos jogando conversa fora enquanto relaxávamos.
Mas essa era a rotina normal. Quando o volume de trabalho era grande, um rapaz da Hungria ia lá dar uma mão pra gente.
Ele também gostava de jogar conversa fora, mas o sotaque dele era bem puxado e muitas vezes tinha uma certa dificuldade de entender o que ele falava e, apesar disso, pude aprender muita cosia sobre a vida dele e seu país, pelo menos em sua visão.
Fiquei 4 meses nesse emprego, trabalhava 3 ou 4 dias por semana durante 7 horas, logo, posso dizer que a minha maior e melhor experiência no meu intercâmbio em quesito de prática do dia-a-dia foi sem dúvida nenhuma, essa.
Observações e conclusões
No geral, o meu saldo no fim dos 8 meses de intercâmbio foi muito positivo.
Poderia ter sido muito melhor? Talvez. Mas também poderia ter sido muito pior.
Voltei para o Brasil (esperando meu visto pra Holanda) confiante pra falar com qualquer pessoa em inglês e inclusive fazer entrevistas no Brasil se um dia precisasse.
Daí você pode falar:
Então você voltou fluente desse intercâmbio…
E a resposta é: Não.
Sempre que me perguntam sobre a minha fluência no inglês me gera uma certa confusão, porque o conceito de fluência pode variar bastante.
Segundo o dicionário, a palavra fluente significa:
"Espontâneo, natural, que se produz com facilidade: inspiração fluente."
Nessa definição, não, não consegui fluência no idioma.
Só vou me sentir fluente, o dia em que conseguir falar/escrever/me comunicar com a mesma facilidade em inglês que faço em português
E posso te garantir que isso leva muito mais tempo do que apenas 8 meses.
Então, se você estiver planejando fazer um intercâmbio achando que vai ser a cartada mestra pra você "ficar fluente", recomendo abaixar um pouco as expectativas.
Esse processo levará anos e vai depender do quanto você se dedica diariamente para que isso aconteça.
Apesar de não fluência, posso garantir de que todo o meu investimento pra estudar inglês em outro país valeu muito a pena, porque no fim, como eu já esperava, aprender inglês foi só a cereja do bolo.
O que eu queria mesmo era poder ter tido a chance de conhecer um mundo completamente diferente do meu e poder ser transformado por isso.
Com todas as letras te digo, aconteceu!